Edição #6
A propagação de fake news é algo muito mais danoso do que imaginamos e atinge várias escalas; que vai do impacto da nossa saúde mental à fragilização da democracia. Até meados dos anos 90, a sociedade estava inserida em um contexto de trocas compartilhadas com memória coletiva comum, onde escutávamos as mesmas rádios, assistíamos às mesmas novelas e tínhamos acesso a repertórios muito parecidos. Com o avanço da tecnologia, expansão da internet e nascimento das redes sociais, o poder de disseminar conteúdo e atrair audiência começou a ser descentralizado. Se hoje, por um lado, temos a democratização desses espaços, por outro temos o excesso de informação e um grande problema na mesa: o que de fato é verdade? Quem se beneficia? Cair em fake news pode ser fácil, mas será que combatê-las também é? Não podemos mais permitir que eleições presidenciais sejam decididas através de informação falsa. Não podemos mais receber correntes mentirosas no Whatsapp que nos desorientam e confundem. Não podemos mais permitir que “uma mentira dita cem vezes torna-se uma verdade”. Precisamos agir, e o momento é agora!
1°
lugar. O Brasil está no topo dos países que mais caem em fake news.
Saiba Mais
70%
mais rápido. As notícias falsas se espalham 70% mais rápido que as verdadeiras e alcançam muito mais pessoas.
Saiba Mais
34%
das pessoas compartilham conteúdo falso estimuladas pela raiva.
Saiba Mais
67%
da juventude brasileira não sabe diferenciar fatos de opiniões.
Saiba Mais
Seu principal objetivo, através de um conteúdo apelativo, é atrair a atenção do espectador e gerar polêmica em torno de um determinado assunto. Ocorre principalmente quando o receptor desta mensagem não consegue fazer um filtro sobre a veracidade da informação, por falta de embasamento ou conhecimento prévio, levando ao compartilhamento e crença da informação inverídica.
As primeiras fake news.
Diferente do que se pode imaginar, fake news não são um fenômeno recente. Não será exagero contar que esse tipo de ferramenta é usada desde a Grécia antiga. O professor Óscar Martínez, presidente da delegação de Madrid da Sociedade Espanhola de Estudos Clássicos. Afirma que “a democracia ateniense tem uma espécie de momento institucional, de marco crucial, que na verdade foi uma genial construção narrativa”. Na antiga Roma, nem todas as pessoas podiam ler, então a história e as informações eram contadas por imagens. O pesquisador Néstor F. Marqués explica que a forma mais rápida de difundir um imperador era cunhar moedas com sua cara. E foi o que o imperador Septímio Severo fez ao cunhar moedas com traços muito parecidos com os de Marco Aurélio e legitimar seu poder. A desinformação também se deu na Idade Média, como em ações da Inquisição, para justificar seus assassinatos e em muitas outras formas de se justificar o abuso de poder.
Avançando na história, chegamos no cenário da Segunda Guerra Mundial. O uso de recursos como imprensa e rádio ajudaram na disseminação da propaganda como forma de manipulação das massas. “A gradativa entrega ao fanatismo que se observa na Alemanha dos anos 1933-1945 revela-se como o triunfo de uma retórica e de uma língua cujo objetivo é conduzir à criação de hordas e não de um corpo de consciências individuais. (KRAUSZ, Luis Sérgio. Consciência e inconsciência do nazismo). Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler no III Reich, ficou conhecido pela frase “uma mentira dita cem vezes torna-se verdade” , que sintetiza a proposta de implicação psicológica da propaganda nazista. A elaboração da máquina de propaganda nazista contava com a instrumentalização de intelectuais e pessoas ligadas às artes.
Os algoritmos, sequência finita e ordenada de passos, que conta com um esquema de processamento e permite a realização de uma tarefa (simplificando: receitas que vão orientar a máquina a executar uma ação), otimizam o tempo que a pessoa gasta, oferecendo conteúdos de maior interesse, através da coleta e análise de todos os dados disponibilizados nas diversas interfaces. Seguem valores como interação prévia, profundidade do engajamento e novidade, e trabalham em cima de gatilhos ambientais que estimulam processos cognitivos que podem preceder, ou dificultar, julgamentos racionais posteriores. Desta maneira, cria-se uma bolha de interesse da pessoa, ignorando assuntos que não possua afinidade.
Para massificar o compartilhamento das informações mentirosas os “robôs” são criados, programinhas que, através de perfis falsos, alcançam essas bolhas de interesse. E esses conteúdos acabam sendo organicamente compartilhados por meios de redes sociais, whatsapp e outras ferramentas de comunicação.
Como o historiador Marc Bloch publicou originalmente em 1921: “Um erro só se propaga e se amplifica, só ganha vida com uma condição: encontrar um caldo de cultivo favorável na sociedade onde se expande. Nele, de forma inconsciente, os homens expressam seus preconceitos, seus ódios, seus temores, todas as suas emoções”. Em outras palavras, independente do período, as notícias falsas necessitam de gente que queira acreditar nelas.
Mas por que caímos em fake news? Existe um fenômeno na mente humana chamado viés de confirmação, que basicamente é a propensão das pessoas procurarem opiniões e informações parecidas com as suas, pois as pessoas se sentem melhores quando têm teorias, ideais ou crenças que vão de encontro com o que acreditam.
Outro aspecto que leva as pessoas a propagarem as fake news é a falta de pensamento crítico. Durante o processo de aprendizagem, poucas pessoas são estimuladas ao pensamento crítico, e muitas são induzidas a algumas crenças, preconceitos e valores, que podem afastar a pessoa do estudo e da reflexão.
Existem várias empresas e instituições interessadas nesta desinformação, visto que é possível criar mentiras para manipular pessoas no sentido desejado. No livro “Engenheiros do Caos” são mostrados alguns exemplos de governos populistas que chegaram ao poder através de fake news e discursos de ódio. Por trás de toda a indústria de fake news existem “ideólogos” que se aproveitam de pautas de interesse massivo, como a luta anti-corrupção, para incitar o ódio da população com notícias falsas, e assim enviesar o pensamento para um determinado partido político.
É claro que fake news não se aplicam tão somente a política. Empresas e pessoas também utilizam esse subterfúgio para ganhar dinheiro. O Youtube, por exemplo, remunera de acordo com cliques e likes. Ou seja, uma propagação bem feita de notícias falsas podem direcionar uma quantidade absurda de pessoas a consumir conteúdos de um determinado canal.
As 6 razões pelas quais compartilhamos a desinformação
1. Gerenciamento de Imagem: nós compartilhamos para causar boa impressão.
Nós twittamos e compartilhamos no Facebook, e até mesmo nos presenteamos, regularmente como uma maneira de dizer “Isso é quem eu sou.”. O site de notícias viral Upworthy, quando experimentando diferentes formas de medir a atenção das pessoas que leem seus conteúdos, descobriu que um grande grupo de pessoas compartilham artigos sem sequer lê-los. Em suma, muitas vezes nós não compartilhamos o que lemos, e sim o que queremos que as outras pessoas pensem que lemos.
2. Regulamento de Emoção: nós compartilhamos para nos sentir bem.
Quando você acabou de voltar de férias excelentes, você quer falar para sua rede sobre isso. Isso ajuda a reviver e reavivar os sentimentos felizes que você sentiu durante a viagem. Por outro lado, se você teve uma experiência ruim , quer dizer isso para a rede como um mecanismo de enfrentamento, para se sentir melhor e para corrigir a injustiça. As emoções são uma das principais motivações para o compartilhamento.
3. Aquisição de Informação: nós compartilhamos para ensinar, ajudar ou obter ajuda.
Quando você tem um problema, você não tem que descobrir por si só como resolvê-lo. Você pode contar com a sabedoria coletiva de pessoas que já passaram por isso antes. No coração do aprendizado coletivo está o compartilhamento de informações. Nós compartilhamos informações porque isso nos ajuda a sobreviver. Assim, nós aprendemos mais rápido, tomamos melhores decisões e realizamos mais com menos.
4. Persuadir as outras pessoas: nós compartilhamos para convencer.
Não são apenas acontecimentos geopolíticos longe do alcance que o compartilhamento pode influenciar. Compartilhar nos dá o poder de persuadir os convencer a agir. Um poder que pode mudar o mundo.
5. Ligação Social – aceitação ou efeito adesão: nós compartilhamos para nos conectar com outras pessoas, fazer parte de um grupo.
Falar e compartilhar são formas eficientes de reforçar os laços sociais. Quando você se reúne com as pessoas para falar sobre futebol, novela, reality shows ou política, você reforça as coisas que vocês têm em comum e que ajudam você a se conectar.
Somos motivados a compartilhar com as pessoas em nossas vidas para nos sentirmos ligados a elas e para alimentar os nossos relacionamentos. O efeito de adesão é definido como uma tendência de aceleração, para mais e mais pessoas aderirem a um comportamento de membro de um determinado grupo, quando percebem que esse comportamento vai satisfazer seus interesses. Ocorre em situações nas quais as pessoas acreditam que os seus interesses são atendidos ao se juntarem a um movimento que está na moda.
No Marketing, esse fenômeno é usado como técnica de persuasão direcionada ao seu subconsciente e é chamado de Prova Social; uma espécie de evidência utilizada para mostrar que outras pessoas compraram e aprovaram o seu produto ou serviço, provando o quão popular ou bom ele, é gerando maior confiança.
Nas eleições, a pessoa que vota, ao ver que sua candidatura favorita tem pouca probabilidade de ganhar, pode acabar escolhendo outras pessoas candidatas com mais probabilidades de ganhar para evitar sentir o voto inútil. Acompanhar pesquisas eleitorais pode fazer com que as pessoas se deixem influenciar pela maioria.
6. Viés de Confirmação
O cérebro é programado para absorver notícias falsas, segundo um estudo publicado na revista Science. De acordo com a pesquisa, a tendência cerebral de uma pessoa é aceitar com maior facilidade informações que confirmem crenças pré-existentes e repelir – ou ignorar – as que desafiam suas opiniões.
Sob esta perspectiva, procuramos as informações que acreditamos serem verdadeiras ou notícias que confirmem uma informação que acreditamos ser verdadeira. Isso influencia nas notícias que lemos e como reagimos a elas; se estiverem alinhadas a algo que pensamos ser verdadeiro, essa notícia é recebida com mais facilidade.
No âmbito da política, campo das ideologias e paixões humanas, o viés de confirmação se mostra ainda mais presente. Quando uma pessoa eleitora vê uma fake news negativa de uma candidatura da qual não gosta, há uma forte tendência de que essa pessoa acredite imediatamente que se trata da verdade e compartilhe a informação falsa. O inverso também é verdadeiro, ou seja, essa pessoa tende a duvidar e examinar a informação mais criticamente se a fake news é sobre sua candidatura preferida. Repare em suas redes sociais e verá que esse comportamento se repete o tempo todo. Trata-se de um mecanismo psicológico simples: as pessoas tendem a acreditar no que confirma suas crenças pré-existentes e a desconfiar do que se choca com as mesmas.
De acordo com recentes estudos, o estímulo a compartilhar conteúdos é ativado principalmente pelos sentimentos de raiva (34%), deslumbramento (30%), valor prático (30%), interesse (25%), e ansiedade (21%).
As tentativas de captação da atenção e o consequente engajamento dentro das redes, aprimoradas gradualmente pelos algoritmos de personalização, trabalham não apenas com julgamentos racionais individuais sobre o que é considerado relevante, mas também com estímulos indutores de estados emocionais que podem motivar a pessoa a agir. Nesse sentido, quanto mais eficiente o algoritmo se mostra na indução desses estados, maior o engajamento individual – e maior o lucro. Vale ressaltar que o ímpeto do compartilhamento de conteúdos é ativado por todo um espectro de emoções, como raiva, ansiedade e deslumbramento.
Político: como meio de maquiar a realidade e estabelecer novas “verdades”
A jornalista Patrícia de Campos Mello, em seu livro “A máquina do ódio”, explica que na versão moderna do autoritarismo, governantes corroem as instituições por dentro ao invés de golpes de estado clássicos. Mas agora basta inundar as redes sociais e os grupos de Whatsapp com a versão dos fatos que se quer emplacar, para que eles se tornem verdades e abafem as outras narrativas, inclusive e sobretudo as reais. A autora justifica citando a trajetória do primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que segue uma vertente ultraconservadora de direita.
A vida no espaço virtual é regulada, em um primeiro momento, através do código.
'Regulada' não como enunciados normativos buscam regular o comportamento individual e social por meio de sanções externas, mas regulada “do mesmo modo que as barras de uma prisão regulam o movimento da pessoa que é prisioneira”.
Nesse contexto, a “regra” aplicada a uma pessoa não encontra sua força na ameaça de consequências do mesmo modo que as leis estatais. A regra é aplicada sobre a pessoa de uma maneira quase física.
O código computacional, portanto, não apenas descreve o espaço, concretizando-o através da sua interface, mas ele também atua sobre o comportamento dentro desse espaço. Um exemplo simples: se você quer ver um vídeo, tem que esperar até o fim do anúncio, ou se quiser ir para a página tal, tem que clicar em um lugar específico.
O impacto das notícias falsas é amplamente potencializado pela possibilidade de distribuí-las instantaneamente na rede e pela possibilidade de direcionar essas notícias para interlocutores individualizados. A personalização de conteúdos é frequentemente exercida através de processos automatizados de decisão que determinarão o público-alvo das informações. Isso possibilita, por exemplo, a conexão direta entre emissores de conteúdos (jornalísticos e/ou publicitários) e comunidades específicas de interesse, de forma a aumentar a frequência de engajamento das pessoas com o provedor de aplicações. Nas redes sociais, isso é exercido através de algoritmos que determinam a relevância do conteúdo de acordo com dados coletados sobre o interesse prévio das pessoas. Nesse contexto, além das informações disponibilizadas textualmente pela pessoa, como seus cliques, likes e diversos outros fatores, todas essas informações são utilizadas para determinar a exposição prioritária de conteúdos e propagandas consideradas relevantes para a pessoa.
As redes sociais, ao entregarem resultados e informações individualizadas para as pessoas, a partir de inferências sobre o que estas gostariam de ver baseando-se nos padrões de atividade na internet, acabam por inserir inadvertidamente as pessoas em “bolhas” ideológicas e culturais de informação. As pessoas acabam por interagir preferencialmente com quem tiver interesses e opiniões similares, diminuindo gradualmente sua exposição a perspectivas que desafiem seus interesses e opiniões.
Segundo Cass Sunstein, fundador e diretor do Programa de Economia Comportamental e Políticas Públicas da Harvard Law School, em um de seus livros diz que 'Em uma democracia que funcione, as pessoas não vivem em casulos de informação. Elas veem e ouvem uma grande variedade de tópicos e ideias. Elas o fazem mesmo não gostando, e o fazem mesmo que não tenham escolhido anteriormente ouvir e ver esses tópicos e ideias. Essas afirmações levantam sérias questões sobre o comportamento online e os usos das redes sociais, assim como sobre o crescimento assombroso do poder de escolher – exibir e bloquear.'
Há também as campanhas pagas nas redes, a contratação de agências para disparos de massa, o engajamento de robôs e trolls em notícias falsas, simulando popularidade para uma informação que na verdade não existe.
Uma vez “impulsionada”, a notícia falsa é propagada em diversos meios de comunicação e a opinião pública tende a desconfiar menos de seu conteúdo, e assim começa a ser compartilhada de forma orgânica pelas pessoas. E quando a notícia passa a ser recebida de canais e pessoas distintas, mesmo que a origem seja uma única fonte possivelmente mentirosa, isso cria uma sensação de legitimidade da mensagem. E mesmo que seja desmentido na sequência, o estrago já está feito. Uma tática de propaganda política, que pessoas pesquisadoras norte-americanas estudaram em 2016, se chama firehosing, que podemos traduzir de maneira literal como “mangueira de falsidades”. Muita usada por Vladimir Putin de 2008 a 2014 e depois por Donald Trump e Bolsonaro, com o Kit-gay, por exemplo.
FireHosing consiste em:
1. Alto volume de conteúdo
2. Produção rápida, contínua e repetitiva
3. Sem comprometimento com a realidade
4. Sem consistência no que se diz entre os discursos
2. Desconfie de notícias não datadas (“Semana passada foi descoberto...”)
3. Pesquise em mais de uma fonte confiável e cruze as informações.
4. Desconfie se a notícia está somente em sites não reconhecidos, com o texto copiado e colado.
5. Pesquise nos meios de comunicação as instituições e pessoas citadas na notícia
Verifique em agências de checagem de fatos como:
- Fato ou Fake: elaborado pelo Grupo Globo e conta com a parceria de diversos profissionais de veículos de renome, como a CBN, a Época e o G1, entre outros;
- Comprova: idealizado para lidar com as fake news em uma iniciativa de profissionais de quase 25 veículos de comunicação brasileiros;
- Agência Pública – Truco: uma instituição sem fins lucrativos que fez, entre 2014 e 2018, um trabalho de checagem de fatos;
- Aos Fatos: especialistas na checagem de fatos por meio da análise rigorosa de notícias com base em determinadas categorias;
- Agência Lupa: ligada ao jornal Folha de S. Paulo e foi a primeira a se ocupar desse tipo de trabalho para evitar fake news disseminadas com tanta facilidade;
- Fake Check – Detector de Fake News: tem origem na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e usa tecnologias para checar a veracidade das notícias;
- Boatos: criado em 2013 pelo jornalista Edgard Matsuki em 2013 com o objetivo de apontar se as notícias mais populares na web são, ou não, verdadeiras;
- E-Farsas: verifica, há um bom tempo, esse tipo de situação, sempre desmistificando os rumores que pipocavam na internet (como lendas urbanas) a fim de trazer à tona a verdade sobre esses casos.
Existe um conflito normativo no âmbito principiológico que cria um paradoxo para a atuação estatal – que é super necessária – no combate a essa prática: o direito de liberdade de expressão das pessoas na sua dimensão negativa (limitando a conduta do estado), e o direito de liberdade de expressão na sua dimensão positiva (limitando a conduta das pessoas).
A resolução em termos de eficiência, que utiliza prioritariamente a autoridade do direito como justificativa regulatória, por sua vez, parece ser a regulação dos intermediários dos meios de comunicação. Isso para que seja imputada a estes alguma forma de responsabilidade sobre as escolhas valorativas dos escritores do código, que acabam por guiar as possibilidades e impossibilidades de ação dentro de seus espaços virtuais, resultando, por exemplo, na possibilidade de ampla divulgação de notícias falsas.
Ações individuais
Conter o impulso de se acreditar imediatamente na informação com a qual se depara e checar sua veracidade.
“Um homem com uma convicção é um homem difícil de mudar. Diga-lhe que você discorda e ele vira as costas. Mostre-lhe fatos ou estatísticas e ele questiona suas fontes. Apele à lógica e ele não enxerga seu ponto”. (Leon Festinger)
As pessoas tendem a acreditar em fake news que tenham alguma relação com suas crenças pré-existentes. O viés de confirmação, que vimos acima, se faz presente quando demonstramos à pessoa que se trata de uma notícia falsa e disparamos nela uma espécie de mal-estar psicológico e uma resistência em admitir que está errada. Isso se chama dissonância cognitiva. Para aliviar essa tensão psicológica, em vez de admitir que compartilhou algo falso, uma estratégia mental comum que a pessoa pode se valer é a ativação do raciocínio motivado. Quando nos expõem a dados que entram em contradição com uma crença consolidada, tendemos a examiná-los muito mais profundamente. Imediatamente, buscamos encontrar falhas (ainda que inexistentes) nessa nova informação para podermos descartá-la e, consequentemente, mantermos nossas crenças, potencialmente equivocadas.
Ao se deparar com o compartilhamento de fake news, o primeiro passo sugerido é postar um link — preferivelmente de agências de verificação — para alertar a pessoa e principalmente as terceiras que possam estar vendo a notícia falsa.
Se os fatos estiverem do seu lado, lembre-se dessas terceiras. Menos foco no seu interlocutor direto e mais nas terceiras. Em tempos de redes sociais, quase sempre várias outras pessoas estão acompanhando o debate entre apenas duas ou algumas. Se seu interlocutor for ideologicamente motivado, é possível que nada o faça mudar de ideia a respeito de alguma bobagem não-factual. Porém, várias outras pessoas (não motivadas) podem se beneficiar da exposição da verdade.
O alcance do seu ato de correção de uma notícia falsa pode ser maior do que imagina. Dado o enorme impacto das mentiras relativas à política na vida democrática, é importante que todas as pessoas possam identificar quem é que compartilha de fato. E se estas permanecerem aferradas a uma “realidade paralela”, paciência. Há, por outro lado, um enorme contingente cujas mentes podem se livrar do obscurantismo com um empurrãozinho. Por isso, quando for tentar corrigir alguém que compartilhou uma fake news, jamais insulte a inteligência da pessoa. Via de regra, essas pessoas terceiras estarão observando e bom senso e ponderação são sempre apreciados
Denuncie as fake news
É importante usar as redes sociais — a ferramenta de denúncia — para apontar o conteúdo como falso. Assim, menos fake news vão circular pela internet e, por consequência, um número menor de pessoas será impactado.
Caso a notícia se refira a algum acontecimento que envolva o nome de empresa privada, ong ou órgão público, busque o telefone ou e-mail da ouvidoria da instituição para denunciar a fake news.
Quando você se deparar com uma informação inverídica que esteja relacionada ao contexto das eleições no Brasil (candidaturas, partidos políticos, campanhas eleitorais, urnas eletrônicas), denuncie ao TSE, por meio do aplicativo de celular conhecido como ‘Pardal’.
A ONG SaferNet tem parcerias com empresas como Google e Facebook. Também conta com o apoio do Ministério Público, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH), da Unicef, da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, visando o fortalecimento das ações de combate aos cibercrimes contra os Direitos Humanos.
Há fake news que são utilizadas como meios de prejudicar a imagem de determinada pessoa e, assim, enquadram-se em crimes previstos no Código Penal Brasileiro no artigo nº138 (calúnia, injúria, difamação). Qualquer pessoa pode se dirigir a uma delegacia para efetuar a denúncia. Destaca-se que, no caso das eleições, a Polícia Federal é a mais indicada.
Batalha em conjunto
Os veículos de comunicação precisam estancar a produção de notícias falsas. As redes sociais e outras empresas precisam detectar formas de inibir a propagação dessas notícias em grande escala. Os órgãos públicos precisam fiscalizar e punir responsáveis pelas fake news. E pessoas usuárias precisam ter senso crítico para identificar as fake news que chegam e contestá-las.
Este senso crítico, no entanto, deve ser incentivado pelas empresas, veículos e governos. É possível identificar uma série de ações e discussões que estão sendo feitas em torno do tema, desde legislações até a adoção de novas tecnologias, como inteligência artificial e ferramentas de big data analytics. Mas ainda falta ampliar o engajamento deste último elo da cadeia, que é a pessoa usuária.
Precisamos falar sobre
O 'Precisamos falar sobre' é uma das formas que encontramos para gerar a conscientização e exploração de causas aqui na Meiuca. Mensalmente debatemos uma temática escolhida pelo nosso time, tentamos nos aprofundar nesse assunto durante este período e no final abrimos uma grande roda de conversa para estimular a reflexão coletiva. Convidamos pessoas especialistas nessa causa e pessoas entusiastas pelo tema para contribuir também!